A psicoterapia on-line funciona?
A psicoterapia on-line não é nova, embora tenha ganho destaque nos últimos meses devido à situação pandémica que o mundo enfrenta. Apesar do confinamento imposto pela pandemia de COVID-19, a psicoterapia on-line tem permitido manter a disponibilidade e a continuidade dos cuidados psicológicos, numa altura em que o isolamento, a incerteza, os problemas sociais e económicos provocam um agudizar do sofrimento psíquico.
No entanto, surge frequentemente a questão se a psicoterapia on-line é tão eficaz quanto a terapia presencial. Há um receio que não funcione, que dessa forma não seja possível estabelecer uma ligação emocional entre paciente e terapeuta, que a utilização da tecnologia afecte a construção de um sentimento de proximidade e segurança, ou até a confidencialidade do processo psicoterapêutico. Mas será assim?
Na realidade a terapia intermediada pela tecnologia já era previamente utilizada por muitos psicoterapeutas, embora talvez de forma mais pontual, em situações onde a residência, os horários ou os compromissos profissionais dos pacientes assim o exigiam, permitindo aumentar a flexibilidade e garantir a acessibilidade aos diversos tipos de intervenção psicoterapêutica -individual, de casal ou familiar.
Apesar de na psicoterapia on-line não existir um encontro e a partilha de um espaço físico entre duas pessoas (o consultório) como acontece na psicoterapia em contexto presencial, a psicoterapia on-line permite sem dúvida alguma criar uma conexão psicológica e desenvolver a relação terapêutica. E embora este tipo de intervenção mediada pela tecnologia não seja adequada para todos os pacientes ou em todas as situações, é na maior parte dos casos uma solução muito útil, quando a presença física não é possível. Caberá ao psicoterapeuta avaliar quais as circunstâncias em que uma psicoterapia face-a-face é mais apropriada (por exemplo, situações de crise psicológica aguda onde a presença física do terapeuta é fundamental para conter, securizar e proporcionar maior estrutura ao paciente).

Também é verdade que existem novos desafios colocados pela terapia não presencial que devem ser tidos em conta – por exemplo, as disrupções provocadas pelas falhas tecnológicas, ou a possibilidade de os pacientes realizarem as sessões num local privado e confidencial (idealmente sem interrupções ou interferências externas).
Mas o ser humano é criativo e resiliente. Adapta-se e transforma as circunstâncias, ultrapassa dificuldades para se manter ligado aos outros seres humanos, utiliza a tecnologia para investir na relação com o outro. É isso que sucede na psicoterapia on-line. Com as suas virtudes e incompletudes, permite um encontro real entre terapeuta e paciente e a criação de um espaço terapêutico.
Marta Aleixo
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta